na qual se refletem as contribuições de todos os palestrantes:
●Os seres humanos são indivíduos interexistentes ao atuar como encarnados e como espíritos, e o foco da análise espírita é o ser humano encarnado, pelo que se destaca: o valor da pesquisa; o valor da ação; e a liberdade orientada à solidificação do progresso.
●Tendo em conta o avanço de alguns movimentos fundamentalistas na sociedade, uma nova oportunidade é gerada para reafirmar o posicionamento espírita ao lado do progresso e da ciência, redefinindo princípios evolucionistas, reencarnatórios, vida espiritual e mediunidade, para destacar as diferenças entre crenças dogmáticas e espiritismo filosófico, portador da mudança.
●Unir liberdade natural e liberdade social, liberdade política com a eficiência econômica e a justiça social, constituirão elementos essenciais de um mundo regenerado moralmente. O desafio consiste em conseguí-lo a curto prazo, edificando sociedades livres, fraternas e solidárias, pois é exercendo a liberdade como livre arbítrio que o ser humano se desenvolve em toda sua potência.
●Sendo o espiritismo uma doutrina baseada na autonomia moral e na liberdade dos seres humanos, compreende que os indivíduos têm direito a escolher as experiências a serem vividas, dentro dos limites do livre arbítrio, e a opção pela eutanásia parte do livre arbítrio. O espiritismo não condena as experiências humanas, mas reflete sobre elas, analisa as consequências, independentemente de julgamentos e valores.
●O suicídio é o resultado do abandono, do preconceito, da insegurança econômica, da competitividade desenfreada, do desemprego, do individualismo embora esteja revestido de religião e de indiferença social. Tudo o que se possa fazer para promover a aceitação do outro, da diversidade em todos os sentidos, a solidariedade, as políticas de fraternidade e amor ao próximo, pode afetar os índices de suicídio.
●No Espiritismo, mesmo tendo surgido em um ambiente conturbado, não encontraremos nenhuma palavra que nos induza ao desespero; pelo contrário, oferece um caminho de moderação e controle dos impulsos na observação serena dos processos sociais e de nossos próprios processos. A proposta é ter uma atitude crítica para aprender e melhorar, sem perder a tranquilidade, pois a imortalidade dinâmica nos ensina que este caminho tem contratempos, mas por isso mesmo é bonito, e a razão está acima da agressividade e da violência.
●Kardec, antes de tudo, era educador, e como tal leva sua bagagem pedagógica ao espiritismo. A pedagogia espírita no Brasil tem raízes históricas devido a ação de espíritos lúcidos como Eurípides Barsanulfo, Anália Franco, Tomás Novelino, Vinícius, Herculano Pires, Ney Lobo. O espiritismo em si é uma proposta pedagógica de aperfeiçoamento do espírito para a eternidade, construída em múltiplas vidas, de forma autônoma, livre, emancipadora, porque nos deixa a nós mesmos a construção da nossa identidade espiritual.
●Os desafios propostos ante uma mudança de paradigma são: Mudanças pedagógicas e criatividade. Abertura a outras possibilidades de entendimento, dada a diversidade das circunstâncias atuais. Ensino multidisciplinar, pensando no espírito como produtor de seu autoconhecimento. Crianças aprendendo a pensar sobre si mesmas, a iniciar-se no conhecimento de sua personalidade, com uma atitude de livre-pensadores, críticos, reflexivos, questionadores da realidade e de si mesmos.
●Estamos vivendo a visibilidade inquestionável da homo afetividade. O Espiritismo, com a certeza da imortalidade do espírito, da reencarnação e da evolução constante, pode colaborar nessa conscientização, exercendo e propondo a inclusão, avaliando a diversidade e apoiando causas numa ação pró-social.
●O transexual clama por respeito, integração, igualdade de oportunidades. Deve-se educar o indivíduo e a sociedade para promover a inclusão, a saúde, a cultura e o trabalho digno, preparando profissionais para oferecer o apoio necessário.
●Observa-se o racismo nas sociedades atuais como desigualdade e exclusão, sendo exercido de maneira diferente em cada país, em condutas de superioridade e de hierarquias sociais enraizadas na alma humana. A proposta é compreendê-lo e trabalhá-lo, identificando onde se expressa, atuando a favor da igualdade e da justiça, visto que tais condutas são incompatíveis com o espiritismo.
●A mente aberta às mudanças, à extinção de preconceitos e crenças limitantes, além da consolidação gradual em nossas sociedades da lei de reencarnação, será o impulso para que as relações intergeracionais deixem de ser consideradas como um desafio e se convertam em inúmeras oportunidades de crescimento.
●O mundo não muda por si só; nós, espíritas, possuímos um conhecimento que podemos e devemos transmitir para esta transformação, com palavras e condutas, não sendo indiferentes às injustiças, mantendo a esperança em um mundo melhor e com uma participação ativa, tratando de que os valores do espírito estejam acima das conveniências pessoais.
●No tocante ao desenvolvimento sustentável frente aos câmbios climáticos, avaliar o desempenho individual e social, repensar condutas, para redirecionar os atos com renovação e compromisso, criando um novo estado de consciência para gerar uma nova escala de valores que nos permita forjar um impacto ambiental positivo desde as mudanças pessoais até as globais.
●Surge a necessidade de um novo enfoque dos três pilares, liberdade, igualdade e fraternidade, como desafio ante uma nova etapa da humanidade. Allan Kardec lançou ideias espiritualistas antecipatórias propondo um compromisso consciente para um mundo melhor, posto que o pensamento espírita se encontra na vanguarda da igualdade social, sendo competência dos espíritas atuais propor discussões sobre o futuro da humanidade.
●O espiritismo revela que a verdadeira natureza do ser humano é espiritual e não material, e que as sucessivas encarnações são oportunidades de crescimento. Neste contexto, os bens materiais adquiridos em cada existência têm um caráter temporário. A partir desta ideia fundamental, o espiritismo não condena a propriedade privada adquirida sem prejuízo a outros, senão que lhe confere um caráter transitório e, necessariamente, com uma função social relevante.
●O fenômeno da pandemia apresenta inúmeras consequências a nível individual e social e desafios que requerem um nível de adaptação e tomada de decisões inadiáveis para o futuro da humanidade. Eis aqui alguns: redução das lacunas econômicas; uma nova visão do ser encarnado; respeito dos direitos básicos universais; urge uma transformação política universal baseada na cooperação internacional mais além da identidade e cultura de cada nação, que proponha uma nova ordem social; e termos consciência de nossa verdadeira essência espiritual.
●A filosofia espírita permite ao pessoal da saúde e pacientes, ver o processo desde um ângulo diferente do que o resto da sociedade: Favorece a capacidade de adaptação e resposta rápida a situações adversas. Possibilita o desenvolvimento médico de estratégias e tratamentos para novas doenças. Coloca em evidência a proximidade da morte, favorecendo o desenvolvimento do sentido transcendente da vida. Incentiva a profunda valorização dos seres que nos acompanham. Estimula o contato com a introspecção e um modo de vida mais pausado.
●Nós, espíritas, devemos enfrentar a pandemia com: Calma, para não deixar que o estresse deste momento nos leve a estados severos de ansiedade, depressão e tendências suicidas. Inteligência: informação confiável, seguindo indicações sensatas e vacinação. Solidariedade: no trabalho, para que a sociedade funcione. Resiliência: a força interna que nos leva à recuperação ante situações adversas.
●O uso da tecnologia se tornou o principal meio de difusão e apresentação do espiritismo. Este fato oferece desafios que se deverão resolver para que o excesso de informação, a duplicação desnecessária de conteúdo e, sobretudo, a massificação de material de baixa qualidade, ou inclusive negativa à mensagem espírita, não se tornem um elemento contraproducente para os objetivos de difusão.
●O espiritismo convida a viver com intensidade cada momento de dificuldade, aplicando as convicções, que colocam o ser humano acima do efêmero, sendo conscientes de que estes aprendizados são parte do processo evolutivo, sabendo que, ao mesmo tempo, precisamos de certezas para viver e incertezas para evoluir. Quando nossa consciência encontrar um sentido, estaremos focados no transcendente.
●O espiritismo já expressava no século XIX o desenvolvimento da consciência. A ciência precisa, para preencher lacunas em sua filosofia, de um pensamento espiritualista que expresse o que os cientistas não se atrevem a afirmar: consciência e observador. Certamente, a continuidade das pesquisas sobre a consistência do Universo e a criação da matéria pela consciência dará a ideia de Deus como objeto de Ciência e não de Religião.
●A que aspiramos em nossa próxima reencarnação, a um mundo de trabalho ou a um mundo de contemplação? Encontramos resposta na filosofia espírita: estamos onde estamos pelos pensamentos que predominam em nossa mente, o que entra na esfera de nossa própria responsabilidade. Somos o projeto mais importante que temos pela frente, tentando ser o exemplo do que desejamos para viver, não em outro mundo, mas neste, o lugar mais favorável para nossa evolução individual.
●Cada um vê a vida do seu ponto de vista. E não é o mesmo para todos. Essas diferenças com as quais vive o ser humano devem nos mobilizar para a humanização. A responsabilidade surge das leis, do compromisso e da maturidade. A distância entre a tristeza e a alegria é grande, não podemos pular tudo de uma vez, mas podemos pôr uma estação no meio, para refletir e dar o salto. Essa estação é a gratidão.
●Comecemos legitimando novas pesquisas, admitindo que nem sempre temos respostas, e transformemos este cenário no convite que levou à pandemia a pensarmos juntos. A atualidade é atravessada pela necessidade de recorrer às experiências, limpas de condicionamentos culturais, acessando a espiritualidade que nos constitui. Temos um desafio pela frente: decidir o que fazer como humanidade com a possibilidade que a pandemia nos deu de fazer uma pausa e uma revisão.
●Os postulados espíritas não admitem que este fenômeno provocado pelo Covid, e que já cobrou milhões de vidas, se interprete como um castigo de Deus, e muito menos que se justifique com base na reencarnação ou na lei de causa e efeito. Essas experiências proporcionam ao ser humano o aprendizado e a oportunidade de exercitar sua inteligência, a capacidade de resignação e o desenvolvimento de sentimentos de abnegação e amor ao próximo.
●A chave para superar os obstáculos que encontramos em nosso caminho é enfrentá-los com uma atitude positiva por meio de uma mudança de pensamento, sabendo que modificar a forma de pensar maximiza as percepções, vendo nos conflitos oportunidades de crescimento, entendendo que a positividade atua em benefício da saúde, compreendendo que o autoconhecimento é a essência da maturidade humana.
●Fala-se muito sobre expiações e provas, e raramente sobre experiências. Assim, o caminho do aprendizado pode ser dificultado não só pelos erros, às vezes muito graves, mas também pelo tipo de opção tomada para resgatar as más condutas cometidas. O Espiritismo tem ferramentas para estabelecer o equilíbrio e ensinar a viver melhor. Pois é disso que se trata: viver melhor.
●A arte dá uma ideia de evolução constante da humanidade. Abre portas psíquicas, nos enche de paz, e também expressa desacordos abertamente contra a indignidade ou a hipocrisia. Denuncia, intervém, bate e agita consciências. A arte é a expressão e investigação da vida interior. É um desafio inserir arte na educação, ao lado de outras disciplinas mais pragmáticas. Também é um desafio atingir o estado vibracional ideal para obter intuição e permitir inspiração.
●Um simples e invisível vírus acentuou ainda mais a separação entre as pessoas. Infelizmente esquecemos que o bem-estar e o equilíbrio do grupo social são fundamentais para a existência e felicidade de cada indivíduo: e é o oxigênio da vida. O que pode dizer o espiritismo em um momento tão difícil para a humanidade? Nos lembra que somos os protagonistas do nosso destino; esclarece a importância do amor e da solidariedade na construção de um mundo melhor. Cabe-nos, agora, manter a esperança em dias melhores. E, juntamente com Chico Buarque de Hollanda, cantor, compositor e escritor brasileiro, repetir a frase da canção: “Amanhã vai ser outro dia”.
PRECISAMOS ASSUMIR QUE ESTAMOS APRENDENDO A SER FELIZES
Barcelona (Espanha), 12 outubro 2021.