Declaração de intenções da CEPA - Associação Espírita Internacional

  1. Ratifica-se, inicialmente, o consenso de que o espiritismo, tal como concebido e sistematizado por seu fundador, Allan Kardec, é uma ciência de observação e uma filosofia espiritualista, originadas do intercâmbio entre a humanidade encarnada e a humanidade desencarnada, visando o progresso científico e moral do ser e da sociedade humana, com o intuito de conduzi-los a estágio de plena felicidade, pela prática do Amor, da Justiça e da Caridade;

  1. Entende-se, assim, o espiritismo não como uma religião, mas como ciência e filosofia de caráter laico, humanista, livre-pensador, progressista e pluralista, tendo por base o conhecimento e a prática das leis naturais, as quais, segundo a questão de número 648 de O Livro dos Espíritos (LE), abrangem “ todas as circunstâncias da vida”;

  1. Admite-se que a aceitação dos princípios da imortalidade do espírito e seu progresso infinito, mediante as vidas sucessivas no mundo material, estimula o ser humano ao enfrentamento das questões que desafiam o indivíduo e a sociedade, em todas as etapas de seu desenvolvimento espiritual, intelectual, emocional, político e social. Assim, cada período da História oferece novos desafios ao ser humano convidando-o, igualmente, a rever anteriores posições diante da necessidade contínua de progresso no campo do conhecimento e da transformação ética, pressupostos para a aquisição de novos padrões de bem-estar físico e espiritual ao indivíduo e à sociedade.

Com base nesses pressupostos, CEPA- ASSOCIAÇÃO ESPÍRITA INTERNACIONAL, deseja transmitir as seguintes REFLEXÕES:

  1. Episódios históricos como a presente pandemia provocada pela Covid 19 não devem ser interpretados como castigos ou ameaças de Deus, dos Espíritos superiores ou de forças misteriosas ou sobrenaturais, mas como eventos resultantes do deficiente conhecimento humano acerca de sua própria natureza, das condições sanitárias que o envolvem e da ausência de medidas de prevenção, de combate a agentes biológicos prejudiciais à saúde humana. Assim, os cíclicos episódios de epidemias ou pandemias, como esta agora vivida pela humanidade, devem servir de estímulo à ciência, a seus organismos e aos detentores de poder sobre esses setores, no sentido da mais ampla prevenção, educação, combate e tratamento em condições igualitárias, justas e humanitárias, capazes de alcançar todos os povos, independentemente do grau de adiantamento econômico e social de cada nação ou comunidade humana;

  1. O espiritismo propõe expressamente a necessidade da implementação de políticas sociais justas e fraternas, fundamentadas na igualdade de todos os seres humanos perante Deus e as leis naturais. Proclamando que a desigualdade das condições sociais não é uma lei da natureza, sendo, assim, obra do homem e não de Deus (q.806 LE), o espiritismo defende que a aquisição de bens materiais deve observar critérios justos e honestos, e que sua utilização deve se orientar sempre no sentido do bem de todos. Ao mesmo tempo, condena a acumulação exagerada de bens nas mãos de uns poucos em detrimento ou pela exploração de muitos. Consideramos inadmissível a permanência da fome, a miséria social, a escravidão e toda e qualquer forma de exploração e injustiça social, devendo ser promovidas fortemente a alteridade e a empatia;

  1. O princípio da igualdade deve necessariamente garantir condições idênticas de gozo de direitos civis, trabalhistas e políticos para homens e mulheres, ampliando-se e estimulando-se, de igual forma, as modernas políticas públicas de acolhimento social, igualdade de oportunidades e tratamento respeitoso a todos, independentemente de sua orientação sexual, gênero, etnia ou crença. Nesse sentido, núcleos familiares originados de uniões homoafetivas devem merecer o mesmo respeito e gozar de idênticos direitos daquelas formadas por parceiros heterossexuais. Q.822 LE: “ A lei humana, para ser justa, deve consagrar a igualdade de direitos entre o homem e a mulher; todo privilégio concedido a um ou a outro é contrário à justiça. A emancipação da mulher segue o progresso da civilização , sua escravização marcha com a barbárie”;

  1. A liberdade, conquista da autonomia do espírito em seu processo evolutivo, é princípio fundamental que deve presidir as relações humanas e a preservação do Estado Democrático de Direito. Da liberdade de consciência, que é “uma das características da verdadeira civilização e do progresso” (q.837 LE), derivam, igualmente, as liberdades de crença, de ideais políticos e de ações humanas, desde que não firam direitos alheios e não atentem contra os direitos fundamentais humanos. Nesse sentido, devem ser repelidas, denunciadas e combatidas todas as doutrinas antidemocráticas, baseadas em fundamentalismos ideológicos ou religiosos, atentatórios à civilização, ao progresso, à fraternidade, à cidadania e ao humanismo;

  1. A educação formal, a pedagogia em favor da autonomia, da liberdade e da cidadania, devem estar ao alcance de todo o ser humano, independentemente de sexo, gênero, etnia ou situação econômica e social, em todos os países do mundo, especialmente no período de sua formação para a vida social. O acesso à educação deve ser amplo e irrestrito a todos. Kardec se refere à relevância da educação na q.685 LE quando nos fala sobre a importância da educação moral ; “ e nem ainda a educação moral pelos livros, mas a que consiste na arte de formar o caráter, aquela que cria os hábitos, porque educação é conjunto de hábitos adquiridos”;

  1. Todo o ser humano tem direito à saúde, cabendo ao Estado e à sociedade zelar pelo bem-estar físico, mental e psicológico de cada cidadão e da coletividade, garantindo-lhes o direito à alimentação saudável, à habitação digna, à assistência médica e hospitalar em caso de doença. A saúde do corpo é eficiente meio de aprimoramento do espírito. Kardec propõe uma síntese desses conceitos na q.793 LE : “só tereis verdadeiramente o direito de vos dizer civilizados quando houverdes banido de vossa sociedade os vícios que a desonram e quando passardes a viver como irmãos”;

  1. O alerta que acaba de ser feito pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – IPCC -, organismo da ONU, sobre a grave situação ambiental do planeta, e do qual resultam graves episódios meteorológicos recentes, provocados pelo aquecimento global, é acolhido integralmente pelos participantes deste Congresso. Segundo o documento publicado em 9 de agosto de 2021, os efeitos catastróficos nas mudanças climáticas são, inequivocamente, resultado da ação humana. Essa constatação científica insere tais fenômenos no âmbito da lei de causa e efeito, sem que, para isso, precisemos recorrer às teses místicas do castigo divino ou do carma. Como espíritas e como cidadãos conscientes, devemos zelar pelo meio-ambiente do planeta em que estamos reencarnados, onde reencarnam nossos filhos e netos e, provavelmente, para onde retornaremos em novas existências;

  2. Como corolário dessas conclusões, recordamos Allan Kardec (Em “A Gênese”. 1ª edição, Cap.XVIII), para quem o espiritismo “ por seu poder moralizador, por suas tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pela generalidade das questões que abrange ”, é uma filosofia inteiramente apta a “ secundar o movimento de regeneração” da humanidade, e, por isso, contemporânea de um período histórico marcado pela necessidade de profundas transformações sociais no sentido da justiça, da liberdade, da igualdade, da fraternidade e do amor.

Os desafios, surgidos na Modernidade, na qual nasceu o espiritismo, multiplicam-se, ampliam-se e exigem constantes respostas dos espíritas de cada geração.

Desta forma, o presente documento marca a posição da CEPA, ao completar 75 anos de existência, e dos espíritas laicos, progressistas e livres-pensadores que a integram.

O XXIII Congresso da CEPA abordou nestes quatro dias de exposições, estudos, debates e reflexões, temas como: A pandemia trazida pela Covid 19; Justiça Social; Sexualidade; Liberdade; Educação;Meio Ambiente e seus reflexos; Avanços no estudo da consciência, da interação espírito/matéria e respectivas consequências nos campos da religião, da ética, da saúde física e mental, das mudanças sociais e comportamentais e da mirada artística e a cultura em geral.

Em homenagem ao país eleito como sede deste XXIII Congresso Espírita da CEPA, e que, por força das restrições sanitárias vigentes em todo o mundo, organizou e operacionalizou o evento no formato virtual, a partir da cidade de Barcelona/ES, publica-se a presente





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O CPDOC Iniciou suas atividades em 1988, fruto do sonho de jovens espíritas interessados na inserção da crítica coletiva como prática estimuladora ao aperfeiçoamento dos trabalhos.

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