MAURICE HERBERT JONES – BIOGRAFIA (*)
Maurice Herbert Jones, filho de Samuel Herbert Jones e Maria Clotilde Thorpe Jones, nasceu na cidade de Gravatá no interior de Pernambuco em 3 de setembro de 1929. Aos cinco anos de idade transferiu-se, com a família, para o município de Osório no Rio Grande do Sul, onde seu pai passou a trabalhar como técnico da Secretaria de Agricultura do estado.
Na adolescência passa a morar em uma pensão na cidade de Porto Alegre e matricula-se em uma escola técnica. Forma-se como técnico industrial em 1950 e, imediatamente, começa sua vida profissional na Companhia Estadual de Energia Elétrica, seu único emprego, onde se aposentou. Em 1954, a convite de seu pai, é admitido na maçonaria onde desenvolve atividade intensa até 1967, não por acaso, o ano em que assume compromisso prático com o espiritismo.
Casa-se em 1958 com Elba Jones, sua companheira de toda vida, com a qual tem quatro filhos. Em 1964, depois de 14 anos de atividade profissional que exigia permanente movimentação por todo o estado, foi selecionado para participar da criação de um centro de formação e aperfeiçoamento profissional na sua empresa. Este fato foi marcante, pois além de participar, em duas ocasiões, de cursos de aperfeiçoamento pedagógico na França, o novo campo de trabalho, fascinante e desafiador, lhe permitia fixar residência em Porto Alegre onde planejara, com sua esposa, participar da instituição espírita mais próxima. Ambos, por coincidência, eram oriundos de famílias espíritas onde tiveram acesso à literatura espírita disponível na época, principalmente romances e a obra de André Luiz.
Alguns dias depois da instalação da família no novo endereço, no final do ano de 1966, passeando pelos arredores defrontaram-se, em uma esquina próxima, com uma pequena e simpática construção com o letreiro SELC – Sociedade Espírita Luz e Caridade. Dois dias depois Jones, sem nenhuma experiência prática, se apresentava ao Presidente José Valejos Abreu oferecendo-se para qualquer atividade. Menos de dois anos depois, em 22 de outubro de 1968, com o afastamento, por motivos pessoais, do Presidente, Jones assume a presidência da SELC, marcando uma profunda mudança na trajetória da instituição. Descontentes com a nova dinâmica doutrinária, a maioria dos trabalhadores da casa vai, voluntariamente, se afastando. Nesse tempo de solidão chega, vindo do interior do estado, o casal Ismar e Ieda Vilhordo, ela médium qualificada, ambos dispostos a compartilhar o desafio de reerguer a instituição. Reuniam-se os dois casais no auditório, buscando descortinar caminhos e definir metas quando Ismar Vilhordo sugeriu: “Jones, vamos estudar espiritismo e comecemos pelo Livro dos Espíritos”. Essas quatro pessoas constituíram o primeiro grupo de estudos da casa e definiram a linha mestra que conduziria os próximos quarenta anos de sua história - a opção prioritária pelo estudo.
Os demais acontecimentos e as pessoas neles envolvidas estruturam-se a partir dessa base conceptual. Nela ancora-se a permanente disposição para experimentar e mudar, a transformação em centro cultural, a filiação à CEPA e os exitosos programas de estudo sistematizado de espiritismo ali desenvolvidos, depois transplantados para a FERGS e, finalmente, para a FEB.
Paralelamente a esses acontecimentos, Jones e esposa estabelecem contato com a Federação Espírita do Rio Grande do Sul participando de todos os eventos programados pela mesma. Em função desta presença constante Jones assume, a partir de 1974, a diretoria do Departamento de Estudos Doutrinários, depois a vice-presidência e, finalmente, em 1978, a presidência, exercida durante três mandatos consecutivos, passando-a, no início de 1984, para o companheiro Salomão Benchaya, também da SELC. Com Benchaya, Jones inaugura um período de intensa movimentação no Interior gaúcho, levando o Conselho Executivo da FERGS a se fazer mais presente no Estado, através da realização de cursos, seminários, palestras, consolidando a nova estrutura federativa implantada na gestão de Hélio Burmeister. É na sua gestão que, em julho/78, a FERGS lança, no Estado, a Campanha de Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, mais tarde adotada pela Federação Espírita Brasileira, após memorável esforço empreendido por Jones para convencer o Conselho Federativo Nacional da importância de tal iniciativa.
Em fins de 1985, pouco depois da apresentação de uma palestra promovida pela FERGS com o título “É o Espiritismo uma religião?” na qual expunha a opinião de Kardec sobre o tema, Jones, em pronunciamento no Conselho Federativo Estadual, pede demissão da vice-presidência que então exercia, argumentando que, sendo sua visão de espiritismo incompatível com a da maioria dos espíritas gaúchos, não se sentia mais em condição de representá-los. Com este ato, Maurice Herbert Jones encerrou sua atuação no movimento espírita organizado do Brasil, magoado com as atitudes anti-fraternas demonstradas por dirigentes e companheiros espíritas em razão dos questionamentos propostos pelo Conselho Executivo da FERGS com a publicação do nº 402 da revista “Reencarnação” sobre o Espiritismo ser ou não uma religião.
A partir de então, ele e sua esposa, passam a se dedicar, exclusivamente, às atividades da SELC, das quais se afastam, no período de 1991 a 1999, na esperança de oferecer maior liberdade de ação a novas lideranças. Em 2000, reassume a Presidência do CCEPA, atendendo ao apelo do amigo Salomão Benchaya que havia sido designado para coordenar a realização, em Porto Alegre, do XVIII Congresso da CEPA, com o indispensável apoio logístico do CCEPA. Para tanto, toma a iniciativa de realizar a reforma da sede, que há muito se fazia necessária, executando-a no curto espaço de seis meses e na qual empregou expressiva parcela de recursos próprios.
Com a eleição de Milton Medran para a presidência da CEPA, que passa a ter sua sede no CCEPA, em Porto Alegre, a convite deste, Jones assume a Assessoria para Assuntos Institucionais daquela Confederação.
Atualmente, Jones é o Presidente do CCEPA, após um período em que exerceu a vice-presidência, de 2002 a 2005.
Maurice Jones, que pouco escreve – embora o faça com o mesmo tom instigativo de suas palestras – é detentor de um estilo singular para falar em público. Aliás, ele não gosta de falar para grandes auditórios. Nas nossas andanças pelo Interior gaúcho, em tempos de FERGS, era comum ele sentir-se indisposto em razão da ansiedade diante do compromisso de alguma palestra. Seu estilo, como dizia, é singular. Chamou minha atenção, desde que o ouvi, pela primeira vez, em 1974, a naturalidade de sua exposição. Jones fala em público em tom coloquial, sem alterar a voz, não deixando de lado o cacoete de tocar a ponta do nariz com seu dedo médio. Mas é a acuidade de seu pensamento, a elucubração filosófica que lhe é tão peculiar, a sua racionalidade que beira, quase, o ceticismo, além de um refinado senso de humor que o tornam um tipo raro de expositor espírita. Em pequenos grupos, fica à vontade para desenvolver suas reflexões e seus questionamentos sobre qualquer tema, nunca se afastando da dialética na condução de seu raciocínio. Jamais o ouvi “pregando” o Espiritismo. Nem tampouco, estereotipando pessoas, instituições ou posições com as quais não concorda.
Seu acurado senso estético e apurado bom gosto se refletem na beleza e funcionalidade da sede do CCEPA, nas logomarcas que criou – FERGS, CCEPA, CEPA, jornal OPINIÃO, boletim AMÉRICA ESPÍRITA, etc.-, capas das publicações do CCEPA, cartazes e painéis.
Sem nenhuma dúvida, Maurice Herbert Jones integra um seleto grupo de pensadores espíritas da atualidade.
(*) Texto publicado no livro DA RELIGIÃO ESPÍRITA AO LAICISMO – A trajetória do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, de Salomão J. Benchaya, acessível em:
http://pt.scribd.com/doc/13882324/Salomao-Benchaya-Da-Religiao-Espirita-ao-Laicismo