Campanha política deixa à mostra que o Brasil está distante do sonho de colocar no poder homens que não tenham vergonha de ser honestos.
Triste da nação que precisa escolher entre os candidatos aos cargos públicos os menos ruins. Longe de oferecerem perspectivas positivas e esperanças verdadeiras, grande parte dos candidatos, especialmente aqueles que possuem melhores condições econômicas, apenas repetem o modelo de sempre: o desprezo pela verdade e o abuso da mentira.
Esperamos eleger o homem moral, mas o que temos não passa do homem medíocre de Ingenieros, eis que ele se maquia diariamente para aparecer na mídia como o bom cidadão, cumpridor de seus compromissos e protetor da família, enfim, o homem honesto. Mas o homem honesto é medíocre por ser apenas honesto. Falta-lhe ideais, coragem, capacidade de perceber a desigualdade com suas vergonhosas injustiças e dispor-se a agir no sentido de eliminar esses nódulos que corroem o tecido social e fazem do País uma nação de poucos ricos e muitos pobres.
É medíocre o homem honesto que se dispõe a utilizar quaisquer meios para alcançar seus objetivos eleitorais, tanto quanto aquele que se aproveita de um fato para ampliar seus efeitos e enganar os eleitores, entregando-se à mentira. O pano de fundo do homem apenas honesto é a cortina do palco: quando erguida deixa à mostra um cenário repleto de personagens fictícios. O real continua a ser representação e a representação é imagem criada com propósitos escusos.
O fim do recente período eleitoral deixa um rastro de enigmas sobre as promessas e os discursos das promessas. Alguém sugeriu envergonhado que o medo venceu a esperança, restando sombrias preocupações em lugar de excelentes expectativas. É infindável a capacidade de produzir efeitos a partir da publicização dos fatos criados sob medida para enganar e obter adesão ou justificativas.
Os atores políticos e o modo como encenam seus papeis ou como aceitam os figurinos escolhidos pelos verdadeiros criadores da peça teatral são a triste prova da ausência do homem moral. Por isso, este se mantém apenas no imaginário popular que sonha com um salvador a aparecer por entre nuvens vindo num trono de ouro, mas esse sonho é um tempo futuro de cálculo impossível. Assim, até que esse tempo chegue, coloca sobre o homem-promessa sua vã esperança das transformações imediatas.
A sociedade igualitária e justa só poderá nascer da presença do homem moral. Este não pode ser pensado como entidade salvadora, mas como a representação não ilusória de uma coletividade formada por indivíduos que se colocam acima das aspirações egoísticas e passageiras. O homem moral não será um ser individual, senão uma expressão coletiva. Será muitos parecendo um por compromisso com o bem de todos.
Por enquanto, a espera do homem moral permanece como sonho a realizar-se. Nos palcos da política é ele um personagem de ficção passando-se por indivíduo real, pois se destina a ganhar a confiança do eleitor e alçar-se ao degrau mais alto. E como todo personagem de ficção, que não reúne as condições necessárias para se manter na realidade, vive apenas do discurso, esgueirando-se entre a luz e a sombra, deixando-se ver apenas à distância segura que protege sua face real.
O espiritismo pugna pelo homem moral, sabendo-o o único capaz de construir e sustentar a sociedade da justiça, do bem e do belo.
WGarcia
Recife, PE