Artigo publicado originalmente na Coluna do CPDoc - América Espírita – Ano X - Nº 102 – Março 2007
Um homem de seu tempo. Essa é a conclusão do trabalho Kardec, Sua Casa e Seus Amigos, de autoria de Carolina e Reinaldo Di Lucia. Uma proposta apresentada no VIII Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita que visa mostrar as particularidades históricas e correntes filosóficas do século XIX, assim como alguns dos principais pensadores que, de algum modo, influenciaram ou apresentaram pontos de contato com a doutrina espírita.
A primeira parte percorre “a casa” de Allan Kardec. O que se passava em um dos séculos mais famosos e conturbados da história moderna? O que se vestia ou se lia? Que invenções eram criadas? Quais guerras estavam em curso? Se o homem é produto de seu tempo, é impossível querer entender minimamente Allan Kardec e, consequentemente, sua obra, sem saber o modo de vida no qual aquela sociedade estava imersa e, daí, o porquê de determinadas teorias e escolas. Depois desse panorama histórico é hora de apresentar “os amigos” de Kardec. Claro que não há evidências de que os personagens tenham travado qualquer contato, mas é certo que alguns deles influenciaram tanto a doutrina que é possível pensar em um espiritismo antes e depois desses autores e do lançamento de suas obras.
Um desses amigos é Charles Darwin que deu contribuições inegáveis à teoria evolucionista, ao desenvolver a tese da seleção natural pela sobrevivência do mais apto. Mas quem era Darwin? Como chegou a essas conclusões? Essas são perguntas a que o trabalho se propõe a responder. Assim como Auguste Comte, outro “amigo” e a teoria positivista, presente até hoje no método científico e, também, Émile Durkheim e a criação da Sociologia como cátedra, de importância extrema no estudo de nossas sociedades e no desenvolvimento das chamadas ciências humanas. Não teria sido a Lei de Sociedade, de Kardec, fruto dos rumores e ensaios da então incipiente sociologia?
O último “amigo” entra no trabalho mais como uma provocação filosófica. Friedrich Nietzsche e seus aforismas desafiadores da ordem comum, é o mais rebelde e de espírito libertador dentre os componentes do grupo. Representa o “ou não”, a dúvida, o questionamento e a eterna renovação também apreciadas por Kardec em relação à doutrina. Impossível passear pelo século XIX sem conhecer Nietzsche e sua obra que mudaram para sempre o curso da filosofia, tirando-a do Modernismo e lançando as bases do Pós-Modernismo. Nietzsche rompeu com os métodos clássicos de pensar a religião, a política e muitos outros temas ao questionar tudo, através de seus aforismos, sem se intimidar ou censurar os próprios conceitos.
Por fim, o trabalho se encerra com uma “reunião” informal na “casa” de Kardec e todos os seus “amigos”. Os autores especulam o papel de cada um nesse círculo de amizade, o que seria conversado, quais as conclusões tiradas por esses grandes pensadores. No sofá da casa de Allan Kardec caberiam estes e mais amigos, cada qual contribuindo, a sua maneira, para a construção da doutrina espírita.
Com linguagem fácil e didática, Kardec, Sua Casa e Seus Amigos, além de ser um trabalho teórico foi pensado sob a forma de curso, a fim de que pudesse explorado todo esse fervilhar cultural em casas espíritas e centros culturais.