Mauro de Mesquita Spinola1
O CPDoc (Centro de Pesquisa e Documentação Espírita) foi fundado em 1988, com o objetivo de desenvolver e difundir estudos inovadores sobre o espiritismo e temas correlatos. No ano seguinte foi realizado o primeiro SBPE (Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita). O encontro cultural criado por Jaci Regis passou a receber inscrições de trabalhos espontâneos a partir da segunda edição, em 1991. Começou naquele momento a parceria entre o CPDoc e o SBPE, que ganhou corpo com os anos e permanece até hoje. O SBPE tem um imenso valor para o CPDoc pois foi, durante todo esse período, o mais frequente e dinâmico espaço para apresentação e discussão dos seus trabalhos. Muitas foram as sessões do grupo dedicadas especialmente a analisar os trabalhos que seriam apresentados no SBPE. Este, por sua vez, teve no CPDoc o seu mais presente e atuante parceiro. Compreendemos todos sempre que a nossa sintonia era grandiosa e nossos objetivos se alinhavam.
Retomei os vários capítulos bienais dessa união e apresento aqui um pequeno – mas representativo – retrato do que produzimos juntos.
Apesar da diversidade temática dos quase 40 trabalhos do CPDoc no SBPE, cabe ressaltar alguns tópicos que marcaram especialmente a nossa relação.
A atualização do espiritismo foi um dos temas que melhor representaram a nossa parceria. Dois trabalhos produzidos por Ademar Arthur Chioro dos Reis propuseram a agenda e os meios para a atualização. Vários outros colegas complementaram e ofereceram contribuições para esse debate, que se estendeu também para a CEPA desde o início dos anos 2000. Novas visões dos fundamentos do espiritismo, entre eles Deus, a evolução, o livre arbítrio, o perispírito, o passe e a reencarnação, tiveram espaço livre para discussão nesses anos todos. Em certa medida, a atualização pode ser vista como a própria síntese da parceria CPDoc‐SBPE.
A história do espiritismo e o papel de Kardec foram também discutidos em vários momentos. Eugenio Lara apresentou alguns estudos nessa linha. Um deles tratou dos celtas, outro desvendou o papel de Amelie Boudet e um outro investigou aqueles que chamou de desertores de Kardec. Para o CPDoc e para o SBPE, Kardec é a referência essencial, por isso muitos colegas se dedicaram a compreender como o espiritismo se construiu a partir desse referencial.
E afinal o que é o espiritismo? Essa questão esteve também frequentemente em pauta, através de várias pesquisas apresentadas. Numa delas, Reinaldo Di Lucia estudou a epistemologia espírita e avaliou a natureza científica do espiritismo. Foram vários e diversificados os trabalhos dele no SBPE, desde os anos 90, versando não só sobre a
1 Engenheiro, doutor em Engenharia e professor universitário. Atual presidente do CPDoc (2014‐2016).
natureza do espiritismo, mas também a sua atualização e muitos outros tópicos, por vezes enfrentando tabus e anacronismos de pensamento. Ricardo Nunes, por sua vez, discutiu o confronto entre espiritismo e materialismo. Buscou também, em outro momento, compreender o espiritismo pós‐cristão, uma proposta de superação das amarras cristãs. A relação entre espiritismo e religião foi também objeto de vários estudos. Na parceria CPDoc‐SBPE, a natureza do espiritismo é tema essencial.
Ética e moral espírita constituíram uma linha de trabalho bastante impactante. Jacira Jacinto da Silva apresentou alguns estudos sobre justiça, criminalidade, violência e direitos humanos. Marissol Castelo Branco retomou a discussão kardequiana da igualdade de direitos entre o homem e a mulher. Jailson Mendonça analisou o uso da mediunidade em processos judiciais. O racismo e o humanismo também foram discutidos. Esses trabalhos e outros correlatos demonstram a urgência e a contribuição peculiar da discussão social do espiritismo para enfrentar os problemas da sociedade.
A saúde integral do ser humano – analisada tanto do ponto de vista político/social quanto pessoal – teve também alguns trabalhos apresentados. Num deles, Maria Cristina Zaina desvendou os sonhos. Alcione Moreno discutiu a sexualidade, buscando alinhar os estudos modernos sobre o tema com a contribuição do espiritismo. A bioética foi também discutida em alguns trabalhos. As pesquisas sobre células‐tronco, em particular, quando passaram a ser discutidas no Brasil, tiveram no SBPE e no CPDoc um posicionamento inovador, defendendo de maneira explicita essas pesquisas, diferentemente do que fizeram os meios religiosos espíritas e a própria Associação Médica Espírita.
A pesquisa espírita foi igualmente objeto de análise. Mauro de Mesquita Spinola buscou contribuir para o desenvolvimento da metodologia de pesquisa espírita. Sandra Regis mostrou a experiência de um grupo de pesquisas. Vários trabalhos apresentados contêm relatos de pesquisas relacionadas à mediunidade, à obsessão e outros campos.
Finalmente, cabe citar que o SBPE foi palco da primeira apresentação pública do Webcurso de espiritismo, um projeto do CPDoc voltado para a difusão do espiritismolivre‐pensador, desvinculado das amarras religiosas. Discutido e avaliado abertamente no Simpósio, o curso recebeu ali várias contribuições.
As histórias do CPDoc e do SBPE estão apenas começando. Os jovens que fundaram o CPDoc já estão hoje maduros, mas gente nova está chegando. No ICKS, vemos que o legado de Jaci Regis continua vivo, sobretudo através do Abertura e do SBPE. Nossa parceria faz história e tem tudo para se firmar cada vez mais, pois ainda há muito por fazer.