(Allan Kardec)
Este trabalho visa fazer um paralelo entre as teorias de Piotr D. Ouspensky, (Moscou, 5 de março de 1878 - Londres, 2 de outubro de 1947) filósofo e psicólogo russo e Allan Kardec, o fundador do Espiritismo.
Ouspensky, em seu trabalho, investigava a questão da existência de dimensões mais elevadas que a terceira, partindo de análises tanto do ponto de vista geométrico quanto psicológico. Em Um Novo Modelo de Universo (1914), focou a ideia do esoterismo.
Em um de seus tratados sobre Consciência classificou os seres humanos em dois grupos quanto ao grau de consciência: os indivíduos fisiológicos e os indivíduos psicológicos.
Os fisiológicos voltam sua percepção consciente apenas para a satisfação de suas necessidades básicas: sensações e satisfação dos desejos corporais.
Para os psicológicos existe uma vida além do comer, do dormir e do fazer sexo, a qual se estende para uma realidade psicológica, que envolve emoções e sentimentos.
Esses dois grupos são divididos em quatro níveis de consciência:
1. Consciência de sono (fisiológicos): são os indivíduos egocêntricos, egoístas, recusam-se a aceitar o progresso e o desenvolvimento pessoal, alheios às realidades dos sentimentos e da transcendência.
2. Consciência desperta (fisiológicos): os que estão em processo de despertamento para níveis menos egocêntricos de percepção da realidade; aspiram seu desenvolvimento e sonham por uma vida melhor, mas não encontram forças nem motivações suficientes para fazê-lo.
3. Consciência de si mesmo (psicológicos): indivíduos que se percebem autossuficientes, uma mente além de um corpo material; por isso fazem-se perguntas pelas quais se esforçam em responder, iniciando um processo de autoconhecimento.
4. Consciência objetiva (psicológicos): indivíduos em que o egocentrismo já está superado, que se percebem mais claramente na sua totalidade e que se veem como parte de um todo do qual se sentem responsáveis.
Em O Livro dos Espíritos parte segunda, cap. I – DOS ESPÍRITOS Escala Espírita, notamos uma semelhança entre a classificação dos espíritos e os níveis de consciência de Ouspensky.
Começando pela terceira ordem, na qual são colocados os espíritos imperfeitos (todas as classes), verifica-se a predominância da matéria sobre o espírito. Com Ouspensky temos os indivíduos egocêntricos, egoístas, sem percepção para o sentido da vida e os que, embora comecem a despertar para condições mais aceitáveis de uma vida de relacionamentos, ainda se sentem incapazes de se conduzirem nesse sentido.
Na segunda ordem, estão os que já conseguem a predominância do espírito sobre a matéria e têm o desejo do bem. Ouspensky fala dos que já tem consciência de si mesmos, percebendo-se detentores de uma mente além do corpo material e em processo de autoconhecimento.
Finalmente, na primeira ordem, Kardec classifica os espíritos puros, sem nenhuma influência da matéria, identificados pela superioridade moral e intelectual absoluta em relação aos espíritos das outras ordens. Na correlação com Ouspensky temos os indivíduos com consciência objetiva, que se percebem como parte de um todo, dos quais são também corresponsáveis.
Kardec diz que essa classificação se baseia no grau de desenvolvimento dos espíritos, nas qualidades por eles adquiridas e nas imperfeições de que ainda não se livraram; que nada tem de absoluta, podendo-se formar maior ou menor número de classes, conforme o ponto de vista que se considere a questão.
Essa visão afasta a hipótese de alguém aventar a ideia de que Kardec estaria se referindo a uma divisão social, como na Índia. Ali realmente existia essa divisão, conforme o Sistema Indiano de Castas que utilizava critérios de natureza religiosa e hereditária para formar seus grupos sociais.
Mas na classificação de OLE Kardec deixa claro que os espíritos não pertencem para sempre e exclusivamente a esta ou aquela classe; como o seu progresso é gradual e vai se realizando mais num sentido (moral) do que em outro (intelectual), eles podem reunir as características de várias categorias, daí o seu dizer de que a classificação nada tem de absoluta.
Dá para notar que a preocupação do codificador, ao elaborar esse rol classificatório, foi de averiguar qual a classe do espírito comunicante, fato essencial para a análise e credibilidade das mensagens recebidas, como se pode conferir:
“ Com a ajuda deste quadro será fácil determinar a ordem e o grau de superioridade ou inferioridade dos Espíritos com os quais podemos entrar em relação, e, por conseguinte o grau de confiança e de estima que eles merecem. Esta é, de alguma maneira, a chave da ciência espírita, pois só ela pode explicar-nos as anomalias que as comunicações apresentam, esclarecendo-nos sobre as irregularidades intelectuais e morais dos Espíritos.” 1
Na questão 100 de OLE consta que a primeira categoria da Escala Espírita“... compreende os Espíritos puros, que atingiram o supremo grau de perfeição.” Não se sabe o que Kardec e osespíritos consideraram como Espíritos puros e supremo grau de perfeição mas possivelmente nunca atingiremos esse estado máximo de pureza, pois a evolução é uma constante, infinita como o conhecimento. Só a inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas tem a perfeição, a pureza máxima. Chegaremos um dia a compreendê-la, porém jamais a alcançaremos.
1 Questão nº 100 de O Livro dos Espíritos.
Delma Crotti é aposentada, reside no Guarujá, delegada da CEPA, tesoureira do CPDoc e participa do Centro Espírita Beneficente Ângelo Prado, em Santos.
Os artigos desta coluna baseiam-se em estudos e pesquisas desenvolvidos pelo CPDoc. www.cpdocespirita.com.br / Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.