Uma das linhas de estudo do Centro de Pesquisa e Documentação Espírita (CPDoc) é dedicada aos métodos de pesquisa científica e sua aplicação em pesquisa espírita. Para caracterizar pesquisa espírita e, sobretudo, para realizá-la é necessário antes compreender o que é pesquisa.

Pesquisa pode ser definida como a exploração, a inquisição e o procedimento sistemático e intensivo que têm por objetivo descobrir, explicar e compreender os fatos inseridos ou que compõem uma certa realidade.

Ao propor uma discussão sobre pesquisa, é necessário levantar uma questão prévia: qual a diferença entre pesquisa científica e senso comum? Pervez Ghaury e outros [1], ao destacar essa questão em seu estudo sobre a pesquisa na área de administração concluiu que:

pesquisa não é muito diferente de solução de problemas práticos,

pesquisa é diferente de senso comum porque é feita sistematicamente, visa alcançar objetivos específicos e baseia-se em métodos específicos,

o processo de pesquisa (que envolve decidir o que fazer, coletar informações, descartar informações irrelevantes, analisar as informações relevantes e buscar uma conclusão de forma sistemática) pode ser aplicado para qualquer processo de acumulação de conhecimento,

a diferença entre uma observação científica e uma observação baseada em posição pessoal é que a pesquisa científica é feita sistematicamente e se baseia na lógica, não em crenças.

As conclusões de Ghaury, análogas às expostas por estudiosos de outras áreas, podem ser aplicadas também para o contexto da pesquisa espírita. O pesquisador de qualquer área possui crenças, experiência, e precisa, apesar disso, estabelecer um processo de pesquisa baseado na lógica e instrumentos objetivos (não subjetivos) de análise.

A segunda conclusão, em particular, é muito relevante para a pesquisa espírita, já que seu objeto de estudo – a alma dos vivos e o espírito dos mortos – tem natureza peculiar e seu estudo necessita de método adequado, análise já feita por Kardec quando afirma que as observações dos fenômenos espíritas requerem condições especiais e não podem ser feitas da mesma forma que nas ciências ordinárias:

“Querer submetê-las aos processos comuns de investigação é estabelecer analogias que não existem” .[2]

Herculano Pires complementa o alerta kardequiano mostrando que essa questão está também presente em outras áreas:


“O desenvolvimento da Psicologia provaria mais tarde que Kardec estava com a Razão”.

[3]

Além da psicologia, também as ciências sociais, a economia, a medicina e outras disciplinas científicas necessitam, pela particularidade de seu objeto de estudo, de métodos específicos.

Uma das maiores dificuldades da pesquisa está na clara caracterização de seu objetivo. Definir o objetivo – ou seja, o propósito ou o que se pretende investigar – é uma pré-condição para realizar qualquer pesquisa. Dele advém a caracterização das questões de pesquisa, o método, as técnicas e os resultados esperados. Por exemplo, pode-se estabelecer como objetivo de uma pesquisa compreender as sensações dos médiuns durante uma comunicação mediúnica. Outro exemplo seria uma pesquisa com o propósito de investigar a freqüência com que a obsessão ocorre em um certo grupo de pessoas. Dependendo do objetivo, derivam-se adequados métodos e técnicas.

Escolher e caracterizar o método constitui-se em relevante cuidado na pesquisa. Os métodos de pesquisa podem ser classificados em quantitativos (também chamados tradicionais) e qualitativos. Para estudar as sensações dos médiuns pode-se utilizar métodos qualitativos, centrados em estudo de um pequeno e controlado conjunto de casos. Por outro lado, um estudo que busque compreender a freqüência com que determinado fenômeno espírita ocorre exige a utilização de métodos quantitativos, com tratamento estatístico rigoroso.

A pesquisa espírita pode e deve se utilizar dos conceitos e métodos utilizados por outras ciências, contanto que sejam sempre analisadas as peculiaridades do objeto de estudo e as condições ambientais específicas que esse ramo da ciência apresenta.

Maiores informações, ou contribuições para esta pesquisa, favor entrar em contato com o CPDoc, através do email Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..

[1] Pervez Ghaury. Research methods in business studies: a practical guide. Prentice-Hall, 1995.

 

[2] Allan Kardec. O livro dos espíritos. Trad. J. Herculano Pires. São Paulo: Edicel, 1982.

 

[3] José Herculano Pires. Introdução à filosofia espírita. São Paulo: Paidéia, 1983.

Mauro de Mesquita Spinola - Doutor em Engenharia, Professor Universitário, atual Presidente do CPDoc.

Esta coluna é mantida pelo CPDoc – Centro de Pesquisa e Documentação Espírita

( www.cpdocespirita.com.br).

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O CPDOC Iniciou suas atividades em 1988, fruto do sonho de jovens espíritas interessados na inserção da crítica coletiva como prática estimuladora ao aperfeiçoamento dos trabalhos.

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